UM POUCO SOBRE INVESTIMENTOS NÃO FAZ MAL A NINGUÉM!

15-02-2014 11:32

Evandro comenta: “Navarro, uma das coisas que eu tenho percebido ao ler sobre educação financeira é que muitas ‘dicas’ de autores estrangeiros não se aplicam ao cenário econômico brasileiro. Algumas regras parecem simples em economias com juros civilizados e um sistema bancário diferente, mas não aqui. Estou certo? O alerta não é importante para o leitor brasileiro? Obrigado”.

O Brasil é mesmo um país muito diferente. Tomemos como referência a possibilidade de investir em um produto de baixíssimo risco e receber 7% mais inflação (IPCA) por ano, durante 20 anos. Isso mesmo: poder de compra garantido e ainda 7%, todo ano, por muito tempo. Tamanho retorno real, sem risco e com o risco mais baixo possível só existe aqui.

O exemplo acima ilustra a realidade brasileira em termos de juros: trata-se da NTN-B Principal, um título público com vencimento em 2035 – e qualquer brasileiro pode fazer esse investimento, hoje popularizado sob o nome Tesouro Direto (clique para mais detalhes).

Enquanto isso, títulos com características parecidas, mas nos Estados Unidos, oferecem hoje retorno real de 1,5% ao ano, aproximadamente, no longo prazo. E a caderneta de poupança? Atualmente, aqui ela está em 6,5% ao ano (com inflação de 6%); lá em 1% (inflação de 1,5%).

Então, sim, cuidado com a literatura de educação financeira traduzida, especialmente no que tange aos temas “investimentos”, “mercado imobiliário”, “tributação” e “Imposto de Renda”.

Vimos o exemplo dos investimentos, agora é hora de resumir o que acontece com os imóveis: lá fora você toma dinheiro emprestado a 4,5% ao ano para comprar um imóvel e consegue isso ou mais ao alugar esta mesma propriedade.

Lá, o aluguel paga as parcelas do financiamento – e depois do término do pagamento das parcelas, começa a renda passiva. Aqui não é existe isso: as taxas para financiar são mais altas (8% a 12%) e você não consegue compensá-las com o aluguel (não na realidade atual).

E vale lembrar que se o propósito é proteger o patrimônio, há aplicações mais seguras pagando o dobro da média de aluguel (Tesouro Direto, que vimos acima).

Em termos de tributação e Imposto de Renda, é comum nos Estados Unidos que as alíquotas para empresas e renda passiva sejam diferentes e cheias de brechas para diminuição do imposto pago.

Ganhos de capital (carteiras de investimento, por exemplo) costumam ter tributação mais elevada. Quem tem propriedades para alugar também tem benefícios e um tratamento diferenciado.

No Brasil, a diferença nas alíquotas entre as modalidades é menor e a tributação da renda como um todo é mais uniforme – infelizmente para o lado pior, o de alta carta tributária.

Máximas tipo “Renda passiva é muito mais interessante que pensar em ganho de capital” não podem ser vistas como verdades absolutas aqui. Há que se estudar e fazer algumas continhas.

O alerta é importante, afinal há muitos brasileiros lendo o excelente “Pai Rico Pai Pobre” e sua coleção, bem como Dave Ramsey, Suze Orman etc. e querendo “implementar” seu estilo de negócios aqui.

São ótimas referências? Sem dúvida. Suas lições funcionam? Claro. No entanto, é preciso interpretar bem a leitura e aplicá-la de acordo com a diferença de realidades, aproveitando o que cada uma oferece de melhor.

Como “Pai Rico” gosta de dizer quando alguém pergunta e justifica que suas sugestões só funcionam nos EUA, “Se você não consegue fazer onde vive, eu consigo. Educação financeira é colocar em prática a oportunidade de gerar renda passiva de forma sustentável”.

O que ele quer dizer é: estude as opções disponíveis de forma que você consiga maximizar seus ganhos, gerar renda passiva e pagar o mínimo exigido de impostos – isso é educação financeira. Ora, isso todo mundo consegue fazer.

Artigo do Dinheirama Posted: 14 Feb 2014 04:00 AM PST